quinta-feira, 27 de maio de 2010

Pleine Lune - HAINE BRIGADE

Pegando de algumas décadas atrás uma bela música instrumetal da cativante Haine Brigade, com um enorme gosto de saudade e esperança, só para mostrar que sempre existem novas possibilidades pelos dias e pelas noites, principalmente os mais brilhantes e incomuns... vocês olharam para cima hoje à noite?

Pleine Lune (Lua Cheia)


BAIXE AQUI

(Do split CD Haine Brigade "Sauvages" e Kochise "Là où Dansent les Morts")


INSTRUMENTAL


"Ensine a voss@s filh@s que o chão onde pisam simboliza as cinzas de noss@s ancestrais. Para que el@s respeitem a terra, ensinai que ela é rica pela vida dos seres de todas as espécies. Ensinem as suas crianças, o que ensinamos as nossas: que a terra é a nossa mãe. Tudo que acontecer a terra, acontecerá aos filhos e filhas da terra. Quando o homem cospe sobre a terra, está cuspindo sobre si mesmo. De uma coisa nós temos certeza: a terra não pertence ao homem branco; o homem branco é que pertence à terra. Disso nós temos certeza. Todas as coisas estão relacionadas como o sangue que une uma família. Tudo está associado. O que fere a terra fere também aos filhos e filhas da terra. O homem não tece a teia da vida: é simplismente um dos seus fios. O que quer que faça a essa teia, faz a si próprio."

Trecho da carta do Cacique Seattle, da tribo Suquamish. Washington, 1854.



"A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Então, para que serve a utopia? Para isso: serve para caminhar". (Eduardo Galeano)

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Doença - PROVOCAZIONE

Doença - PROVOCAZIONE


BAIXE AQUI

(Do 4way split EP "Estais atentos... nós somos os verdadeiros delinquentes!" Com Provocazione, Septicemia, No Prejudice e Contraste Bizarro)

São em momentos de extrema solidão que posso
compreender o mal que sofro
Minha doença me impede de satisfazer-me com
as escolhas virtuosas que este jogo apresenta.
Portanto, sinto um crônico e profundo tédio.
Jamais posso rir do que parece agradável e
divertido, se não me causa asco, ao menos a
indiferença me provoca.
Sem conseguir prender minha atenção a alguma
função social, quaisquer que seja, e sem um
bondoso ídolo para afagar meu crânio
espatifado, sigo na incerteza. Outrora me iludi
com as atrações que este espetáculo torna a
vista, no entanto, tropecei repetidamente nos
cenários.
Extirpei o dedo de deus cravado em meus olhos
e deixei liberto o veneno de minhas presas...
...Não há esperanças num coração ressequido
pelo ódio.


Os dias seguem cada vez mais estreitos...

Ao passo que as estratégias de esgotamento refinam-se, por meio de armadilhas cada vez mais complexas, simbolicamente precisas, inesperadas, agindo cirurgicamente onde mais doem, massacram e diminuem...
As esperanças desfalecem.
Os últimos resquícios de aconchego e mudança revelaram-se espaços últimos de empoderamento da indiferença, do comum e do hegemônico.
Múltiplos fracassos, onde os esforços parecem não fazer sentido nem diferença.
Os avisos prenunciados nos meandros das situações revelam-se piores nos desdobramentos dos fatos, confirmando as trajetórias de conservação e estabilidade.
Foram nossas escolhas.
Eles não nos despistam, somente por serem construídos no desenrolar aparentemente aleatório das coisas, segundo as piores expectativas, sussurradas no volume das batidas de um coração desconfiado.
Somam-se as irrelevâncias. Por detrás dos gestos de acolhimento está o movimento hesitante, a sombra refratária do golpe e da agressão.
Os inimigos estão mais próximos do que se imagina.
No olhar gélido e inexpressivo, nos fragmentos do espelho partido na encruzilhada de todos os meus caminhos, observo o reflexo do vazio, descubro novamente a solidão.
As esperanças seguem à deriva no oceano dos dias, diluída em diferentes gestos, de onde retiro e faço minha a felicidade líquida dispersa nos sorrisos e olhares dos que estão à margem dos eventos.
O plástico multiplica-se e a vida mais uma vez confunde-se com a morte, rompendo a barreira do real x irreal para se estabelecer no universo destino, ao qual não se opõem escolhas, mas tão somente inúmeras estradas aleatoriamente perdidas em um marasmo de possibilidades.
Escolho @ alternativ@ sem grande medo, pois nos sonhos mais preciosos havia - ocultas na velocidade de um olhar ou na sutileza de uma aproximação - as pistas do meu próprio fim; o meu rosto e o teu repassados eternamente em cada nova opção.

O MUNDO JÁ ACABOU E NÓS AINDA CONTINUAMOS VIVOS...


segunda-feira, 3 de maio de 2010

En tus labios (Venganza) - AUTONOMIA

Ouvi pela primeira vez a canção abaixo há mais de dez anos atrás, quando recebi gratuitamente pelo correio uma K7 envia pelo pessoal da Autonomia, banda que após 20 anos e diversas mudanças na formação permanece até hoje ativa no cenario punk / libertário.

En tus labios - Venganza (Em teus lábios - Vingança)


BAIXE AQUI

(Do CD "Escapando al silencio impuesto" Discografia 1997-2001 )

em teus lábios esta escrita
a vingança de nosso sangue
todo o ódio e a miséria
da gente que tem fome
teus lábios já não agüentam
essa ira que nos desfaze unindo teus braços
e aos seus punhos unindo sangue libertári@

explorando a esperança
de um mundo novo e libertário
teu sangue já cospe ódio mas sangra liberdade!
o amor não existe
enquanto alguém for explorad@
e esse alguém é teu / tua herman@
a quem deves dar a mão pela liberdade

o seu sangue é a esperança
a que luta e combate o seu sangue é libertári@
a que morre por teus / tuas herman@s
com seus olhos, com seus braços
com seus punhos, com seus lábios
o seu sangue é libertári@
já que busca a vingança
de nossa classe explorada humilhada e pisoteada
por seus filhos, por seus pais
essa miséria não nos satisfaz
a luta e combater
combater e resistir
a lutar e combater
combatendo o capital o anarquismo nosso ideal
e nosso grito se elevará à glória


Nascido no Domingo

Ah aquele Sábado, aquele Sábado -
Porque não conseguirmos fazê-lo ir embora?
Não quero acreditar - penso
Tudo é muito real
Para onde foi nosso guerreiro?

Nascido no Domingo, morto no Sábado;
lutou a semana toda até o fim
Deu 24/7 e mais.

Por pior que a morte seja...
de maneira alguma poderia tomar a cabeça de Kuwasi.
Ninguém poderia pegar a cabeça de Kuwasi.
Ele desviou de muitas balas,
foi acertado por algumas também,
sempre continuou se movendo
Não, a Morte deve ter trapaceado,
para levar nosso guerreiro embora.

Nascido no Domingo, morto no Sábado;
lutou o tempo todo durante;
Lutou e amou, dançou a batida, riu
e lutou ainda mais -
por toda a vida, lutou por seu povo
para ser livre.

Guerreiro gentil -
escrevendo poemas, cozinhando rabada ensopada,
lutando duramente
com os jovens (quando podia) -
Guerreiro gentil, valor em ação.
Não,
Ele não gostava de violência,
nem um pouquinho,
apenas odiava a opressão muito mais.
Então ele lutou e lutou
e nunca olhou para trás.

Nascido no Domingo, morto no Sábado;
criou a poesia da luta durante toda a semana;
disse que a Nova África deveria ser livre.

Nosso guerreiro, revolução personificada,
e principalmente, bem principalmente, ele apenas amou
as pessoas,
seu povo,
pessoas comuns,
e todos os tipos de indivíduos
com seus defeitos e excentricidades, almas e
criatividade.

Disse que a Nova África seria livre;
disse que todos os tipos de opressão deveriam ser
derrubados;
disse deixe o espírito humano florescer!

Nascido no Domingo, morto no Sábado;
como podemos tê-lo perdido tão cedo?
A Morte trapaceou e pilantrou com ele.
Mesmo assim sua vida é bem maior do que a morte:
Permanece aqui a gigante risada de Kuwasi,
soando por toda parte vinda do outro lado.

Nascido no Domingo, morto no Sábado;
Onde quer que as pessoas tenham lutado para serem livres.

David Gilbert, 31/12/86



Kuwasi é Lembrado

Minha carta pretende enfocar a komemoração do falecimento do Novo Africano / Negro Revolucionário Anarquista, Kuwasi Balagoon, que morreu em 13 de dezembro de 1986, de pneumocystis cainii pneumonia induzida pela AIDS contraída enquanto estava enkarcerado na Prisão Auburn em Nova Iorque... foi durante meu konfinamento aqui em um dos kkkampos mais racistas da Amerikkka, a unidade AD/SEG da NJSP (Penitenciária do Estado de Nova Jersey) em 1998 quando pela primeira vez fui introduzido ao poema de Kuwasi Balagoon chamado "Sua honra"...
Foi o poema desse irmão que me fez querer aprender mais sobre esse irmão, "Por que ele estava falando com tanta determinação, qual era seu propósito, e quais forças fizeram com que esse guerreiro se tornasse o lutador da liberdade como foi conhecido por ser"... Eu li, eu li, eu li e eu li - finalmente encontrei algum material revolucionário sobre o Black Liberation Army (BLA - Exército de Libertação Negra) onde aprendi então que Kuwasi era um soldado para o povo. Seu propósito era travar uma "guerra" com a cultura inimiga que manteve ele e seu povo como uma nação kolonizada, aqui nos Estados Unidos, e em qualquer lugar onde Nov@s African@s são oprimid@s. Eu compreendi posteriormente porque ele falou com tanta autodeterminação, porque ele estava determinado a quebrar o jugo da opressão - quer seja através de um poema ou de suas ações. Naqueles dias e agora eu cheguei a conclusão de que os males do fascismo, kapitalismo, sexismo, e o papel da estrutura do governo dos Estados Unidos, foram as forças que produziram esse grande guerreiro de todas as pessoas oprimidas...
Kuwasi me serviu de grande inspiração. Seu amor pela liberdade, mulheres, crianças, e pelas pessoas no geral... ele fez algo comigo que fez com que eu permanecesse kontinuando seu sonho revolucionário assumindo seu nome (Balagoon), que significa "senhor da guerra".
Eu assumi seu nome não para me exibir, mas porque eu acreditava e ainda acredito em sua kausa. Há necessidade de muit@s mais Kuwasi Balagoons, mais revolucionários como ele que tomariam a tocha da luta armada para apressar a luta pela Libertação, e o direito humano de ser independente e livre de todas as formas de exploração - opressão e dominação... Cada vez que um porco (policial) fala meu nome "Ba-la-goo" eu sorrio porque eles ainda não perceberam que havia uma vez um homem negro que andou por esta terra que não se importava e chutar o traseiro de um porco (policial), que nunca pensou duas vezes em partir pra cima da kultura inimiga em nome da liberdade e do povo.
Eles não perceberam que o posso ser o próximo Kuwasi Balagoon que poderia apagá-los completemente e criar todo um novo caminho de resistência armada... Kuwasi é lembrado!
"Eu achava que assassinato era legal"

Tafansa Balagoon, 02-12-93



Liberte a Terra

Meu nome é Kuwasi Balagoon. O nome é de origem Iorubá. Iorubá é o nome de uma tribo no oeste da Africa no que era chamada a Costa Escrava, e agora é chamada Nigéria. Muit@s senão a maioria de escrav@s trazidos ao hemisfério ocidental eram Iorubá, e ao longo do escravismo e do colonialismo nos EUA, a religião os costumes e até parte da língua foram mantidas nos EUA, no Caribe, e pelas Américas Central e do Sul.
Quando o povo nigeriano expulsou os britânicos, eles enviaram representantes à parte oriental de Cuba para aprender sua cultura e a religião Iorubá que foi mantida intacta durante o escravismo e o colonialismo espanhol e americano. Eu fui renomeado em um templo Iorubá por meus/minhas companheir@s e me casei em uma cerimônia Iorubá assim como milhares de pessoas antes e atualmente.
A tradução para o inglês de Kuwasi é "nascido num domingo" e a tradução de Balagoon é "senhor da guerra" e como fica bem para mim ter um nome que reflete quem sou e minhas origens, eu aceitei esse nome. Donald Weems, o nome que o promotor gosta de usar, é um nome estrangeiro, europeu. Donald é um nome cristão - e eu não sou cristão; e Weems é um nome escocês, e eu não sou escocês. É um nome que algum escravista decidiu batizar o que ele considerava uma propriedade e é o nome que o estado gosta de usar para propagar uma relação colonial. A tradução para o inglês de Weems é "morador de caverna". Eu rejeito tudo o que ele significa.
Eu sou um prisioneiro de guerra e eu rejeito a merda de ser um condenado e eu não reconheço a legitimidade dessa corte. O termo condenado é aplicado a alguém envolvido em uma questão criminal, em uma busca interna por culpa ou inocência. É evidente que tenho participado do Movimento de Libertação Negra toda minha vida adulta e tenho me envolvido em uma guerra contra a América Imperialista, na tentativa de libertar @s Nov@s African@s de seu jugo. Não sou tratado como um prisioneiro, nem na companhia de prisioneiros com acusações não políticas. Nunca tive fiança ou condicional depois de capturado, e depois de mais de 10 anos em cadeias e prisões, 7 anos gastos em isolamento, segregação administrativa, controle de conduta, unidades de incorrigíveis ou algum arranjo separatista, punitivo ou uma prisão dentro da prisão.

Kuwasi Balagoon



* Trechos retirados e traduzidos do informativo Trail statement of New Afrikan Revolutionary Kuwasi Balagoon, disponível em inglês.

* Outros textos importantes disponíveis aqui:
Our Culture, Our Resistance: People of Color Speak Out on Anarchism, Race, Class and Gender. Parte 1 - Parte 2.

* Para mais informações, acesse também:
http://www.anarchistpanther.net/
http://en.wikipedia.org/wiki/David_Gilbert_%28activist%29

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Theatre of fear - LOST WORLD

Theatre of fear (Teatro do medo)


BAIXE AQUI

(Do EP "( A ) Capitalism is the disease ( E )")

o palco está claro eu olho em volta
ignorância e cegueira estão lutando
pessoas sem rosto
corpos movem-se sem sentido em círculos

é o teatro do medo
não há um fim no interior
muit@s coadjuvantes
no teatro do medo

próximo ato a luta continua
egoísmo e intolerância estão lutando sem esperança de chegar a um entendimento
até que um dia a cortina cai
o que resta é a esperança por um mundo melhor

era um teatro do medo
o final era previsível
muit@s coadjuvantes
no teatro do medo



Haveria - em algum lugar - algo que fosse diferente? (*)


Não era assim que ela imaginava que fosse ser. A mudança, outrora sempre vinha à mente como uma possibilidade a mais de buscar algo que fosse vívido ou diferente... não apenas mais uma ausência de alternativas mediante o esgotamento das expectativas construídas sobre o modo de vida anterior. Isso lhe parecia triste, mudar não pela coragem mais pela covardia, não pela força mas pela fraqueza, não pelo entusiasmo mas pela amargura. E ela se sentia amarga como nunca, talvez apenas numa fase e nunca a pior delas, mas eram dias de um vazio indescritível... seus passos era tão leves que não marcavam a areia, fazendo com que seus caminhos não tivessem nem passado e nem futuro... mesmo sempre saindo de algum lugar e chegando a outro, havia um tipo de restrição oculta nos espaços por onde ela transitava, que sua experiência e conhecimento acumulados talvez nunca fossem suficientes para desvendar.
Ela com certeza conseguia dissimular suas incertezas e o seu descompasso com o mundo sem maiores problemas, mesmo pq ninguém está fora o suficiente de seus próprios objetivos sequer para percebê-la, para entrar em contato com Ela e com outr@s que carregam em sí um genuíno descontentamento à ordem das coisas, mas que não conseguem mais construir seus sonhos e novos mundos, ou viver apenas deles.
Isso não fazia muita diferença, agora que um novo caminho estava sendo criado, agora que novas escolhas haviam sido feitas. Na verdade, não havia nada de novo naquilo e ela sabia, era apenas um reinício em um outro contexto, em um outro ambiente, mas ainda assim circundado pelas mesmas estruturas e com os mesmos princípios. Era tudo tão igual que, lá no fundo, ela se perguntava se havia em algum lugar sobre a terra, algo que fosse diferente.
Assim os dias prosseguiam movidos pela deseperança... A última partida havia sido uma derrota e, mesmo que talvez essa próxima rodada lhe reservasse alguma vitória, ela não sabia mais se isso seria relevante. Vitórias e derrotas sempre se confundem no mundo da indiferença.
Talvez o problema alí não fosse realmente a mudança da realidade ou a disputa de alguma partida, mas apenas Ela mesma e seus valores, seus objetivos. Ela sabia que o problema – ou a principal resposta para os problemas – estava em sua força, nas esperanças que lhe restavam. Assim ela seguia, incerta, e vez ou outra imaginava quando suas forças iriam se esvair e quando o que lhe resta como seu seria finalmente entregue. Questionava-se sem saber que não havia mais força alguma, nem tempo... e que – tudo o que ela fora algum dia – já estava perdido em algum lugar, ou como uma lembrança triste, ou como uma pegada apagada na areia.


sometimes dreams can be deceiving... (**)


Clique em cada uma das páginas (sempre da esquerda para a direita) para vê-las em um tamanho legível.



(***)


* texto / fragmento do que talvez viesse a ser o quinto e último "Vá até lá... e sinta." junho de 2004.

** imagem retirada do zine "Sonhos Esquecidos" junho de 2002.

*** trecho da HQ "Black Hole", do Charles Burns, publicada pela editora conrad em 2007.

VEJA O MUNDO COMO ELE É... SINTA A VIDA COMO GOSTARIA QUE ELA FOSSE!
( A ) // ( E )