quarta-feira, 13 de maio de 2009

The Cotton Myth - PETROGRAD

The Cotton Myth (O Mito Do Algodão)


BAIXE AQUI


(Do split LP com Active Minds "Sentenced for caring")

Sequestrad@s de suas casas
Sequestrad@s de suas terras
Vendid@s aos homens brancos ricos
Forçad@s a trabalhar numa terra roubada

A história dos campos de algodão
É uma história de escravidão

"Eu tenho um sonho que um dia, lá no Alabama, com seus racistas malignos, com seu governador que tem os lábios gotejando palavras de intervenção e negação..."

Tratad@s como menos do que mercadorias
Uma vida nas correntes em um país estrangeiro
E atualmente tant@s parecem ter
esquecido sua própria história
Se foi Lincoln que aboliu a escravidão
As pessoas negras jamais serão livres
Se foi Lincoln que aboliu a escravidão
As pessoas negras jamais serão livres

















"Após o fim do tráfico negreiro, com problemas de reposição de mão-de-obra, os grandes proprietários tiveram dificuldades em atrair trabalhadores rurais, devido, entre outros fatores, às condições exploratórias que impunham. Nos finais dos anos 50, ouve-se o clamor dos fazendeiros que exigem das autoridades medidas tendentes a obrigar os homens pobres livres a trabalhar em suas terras. Em 1860, a pedido, a Arcebispo da Bahia, Marquês de Santa Cruz, emite uma pastoral onde afirma que a ociosidade era um dos maiores pecados e concita, dessa forma, os pobres a procurar trabalho. Na década de 70, acentuando-se o problema, os delegados de Polícia são alertados para efetivar a aplicação do § 2o., do artigo 12, do Código de Processo Criminal e do artigo 111, do Regulamento de 31 de janeiro de 1842. O Chefe de Polícia da Província de Sergipe seria bem claro ao afirmar que 'devido à falta de braços para a lavoura, não se podia permitir a vadiagem'. Estes parágrafos e artigos constituíam-se em verdadeiras leis contra a pobreza, mendicância e ociosidade. Os que fossem encontrados sem trabalho teriam o prazo de 30 dias para encontrar ocupação, findo o qual poderiam receber três tipos de penas: multa de até 30 réis, prisão de até 30 dias e 3 meses de casa de correção ou oficinas públicas."
(Trecho retirado do Livro "Nordeste Insurgente: 1850-1890", de
Hamilton de Mattos Monteiro, Ed. Brasiliense, páginas 19 e 20.)


ANGOLA: A última plantação escravista


Cercada em três direções pelo rio Mississipi, mas ainda no estado Louisiana, está a última plantação escravista dos EUA. Também chamada de "A Fazenda", Angola é a Penitenciária Estadual de Louisiana, um imponente presídio isolado nas colinas - a cidade mais próxima fica a 30 Km - um dos maiores dos EUA, com cerca de 73 km2 de extensão, aproximadamente do tamanho de Manhattam. O Presídio Angola é o exemplo perfeito de como o sistema prisional funciona como um conjunto de instituições que são, em todos os níveis, contínuas ao sistema escravista.

Compradas pelo major Isaac Franklin com o dinheiro de sua empresa de tráfico de escravos, Franklin & Armfield (uma empresa riquíssima, sobretudo com o lucro sobre o tráfico interno, após a proibição do tráfico internacional), as plantações Panola, Belle View, Killarney e Angola foram unidas e alugadas por outro major confederado chamado Samuel James, que dirigiu as plantações até 1901, quando o estado as adquiriu e fundou o Presídio Angola. É chamado assim porque a maioria dos escravos eram angolanos que foram transferidos dos Velhos Quartéis de Escravos e transformados em prisioneiros, submetidos a duras e brutais jornadas de trabalhos forçados nas plantações milho, cana e algodão, o que permanece com característica do Presídio angola até hoje.

Essa prisão de segurança máxima ainda funciona como uma fazenda de trabalho escravo institucionalizada, onde muitos de seus 1.800 funcionários descendem dos antigos capatazes, assim como a maioria de sua população cativa, cerca de 80% de seus 5.000 prisioneiros / escravos, são descendentes de african@s. O trabalho dos presos nas plantações de cana de Angola chegava a ser tão duro e desumano que, em 1952, 31 presos brancos cortaram os próprios tendões de Aquiles como protesto, ficando aleijados e impossibilitados de trabalhar. Fugir de angola é muito difícil. É correr a esmo pelas platações e ser caçado por homens à cavalo e cães farejadores. Lá, as sentenças são absurdas, sugando toda a vida dos presos, sendo raro alguém sair vivo. É estimado que 95% deles vão morrer atrás das grandes. Tudo isso considerado como seguro, estável e constitucional.

Os funcionários não são chamados de guardas ou de oficiais. São chamados de homens livres. Mantêm um sistema nepotista de ocupação de cargos e vivem logo ao lado com suas famílias, no que chamam de "B-line" (Linha-B): um condomínio com em casas bem pintadas e cuidadas, piscina, centro de lazer, pista de skate, etc. Tudo de graça, com o trabalho dos presos, que trabalham com seus macacões brancos realizando as mais variadas funções: cortam a grama, cuidam dos jardins e os de melhor comportamento, chamados por eles de "House Boys" (garotos de casa), limpam e cozinham em suas casas.


Os 3 de Angola: Panteras Negras na solitária

Em diferentes momentos e por diferentes motivos, no final dos anos 60, Robert Hillary King, Albert Woodfox e Herman Wallace chegaram em Angola. Woodfox havia sido condenado por assalto à mão-armada e Wallace por assalto à banco, sendo ambos sentenciados à 50 anos de prisão.
Lutando por melhores condições de vida na prisão, em 1971 fundaram a primeira e única seção dos Panteras Negras em uma penitenciária. Combateram os casos de brutalidade e os sistemáticos estupros que ocorriam. Buscavam auxiliar os presos mais jovens, aconselhando-os a não contraírem dívidas. Geravam consciência política e revolucionária. Organizaram greves de fome e de trabalho.

Mas na manhã de 17 de abril de 1972, Brent Miller, um jovem oficial de 23 anos que estava para se casar, foi esfaqueado 38 vezes e morto. Como resposta, a truculência policial. Após uma série de violências contra os presos, os Panteras Negras (Woodfox and Wallace) foram acusados juntamente com dois outros homens, e Robert foi considerado como envolvido no planejamento da morte. Hezekiah Brown - um preso aliado dos guardas, condenado à prisão perpétua por estupro - que primeiro afirmou não saber de nada do caso, depois de um tempo disse ter visto, enquanto preparava café para Brent, eles entrarem o esfaquearem no dormitório. Negou ter recebido favores pelo seu testemunho, mas em 1975, Murray Henderson - que conduziu a investigação na época - escreveu à um juiz de Nova Orleans recomendando o perdão de Brown. Em 1986 ele foi perdoado, morrendo em liberdade dez anos depois. Outras testemunhas duvidosas apareceram posteriormente, uma delas, Howard Baker, inventou uma história inconsistente que nunca foi questionada: disse ter visto Wallace fugir do local e queimar suas roupas em um incinerador, sendo que não havia um no local. Posteriormente admitiu ter testemunhado por ter recebido uma proposta de alguns guardas que disseram que o ajudariam a sair de Angola. Outra testemunha, Colonel Nyati Bolt, disse que estava com Woodfox na hora em que Brent foi morto. Logo que informou isso aos guardas, foi levado para a solitária.

Woodfox e Wallace foram condenados em um julgamento rápido, de duas horas. Seus advogados eram ineficientes, o tribunal era racista. No ano seguinte, Robert foi condenado por outro assassinato. Foi a descida para o inferno. Eles foram mantidos na solitária 23 horas por dia por vários anos, até que em 1997, Malik Rahim, um Pantera Negra, e Scott Fleming, um estudante de direito, descobriram que eles ainda permaneciam em isolamento e iniciaram as mobilizações. Ficaram conhecidos com "The Angola 3" (os 3 de Angola).
Após 29 anos Robert Hillary King foi considerado inocente, teve sua sentença anulada e foi libertado. Escreveu um livro autobiográfico chamado "From the Bottom of the Heap". Herman Wallace e Albert Woodfox continuam presos em Angola, tendo sido transferidos para um dormitório de segurança máxima em março de 2008, após 36 anos confinados, o maior tempo que algum preso já passou em isolamento nos EUA.

Em julho de 2008, um juiz federal derrubou a condenação de Albert Woodfox, mas não encontrei informações mais recentes sobre sua situação jurídica.

A LUTA CONTINUA
até que tod@s que estão pres@s
ESTAREM LIVRES!!!

Você pode encontrar mais informações aqui. Há um documentário sobre os 3, chamado "The Angola 3: Black Panthers and the Last Slave Plantation", narrado pelo "the voice of the voiceless" (a voz dos sem-vozes), Mumia Abu-Jamal.
Assista abaixo o trailer desse documentário:




A MORTE DO ESPÍRITO

Muito já foi dito e escrito sobre a "vida" dentro da prisão. Alguns se ocupam dos incidentes violentos mais espetaculares que ocorrem, certos de que dessa forma prenderão a atenção do leitor. Outros preferem minimizar a violência temendo que o leitor rejeite aquelas visões sombrias, tão distantes de sua realidade, e julgue que elas são simplesmente inacreditáveis. Como sempre, a verdade oscila em algum lugar entre os dois extremos.

Que as prisões são caldeirões de violência é inegável, mas as expressões abertas de violência são raras no dia-a-dia. O aspecto mais horroroso das prisões reside na banalidade das ocorrências cotidianas, que transformam dias em meses, meses em anos e anos em décadas. Segundo por segundo, a prisão é um ataque à alma, uma degradação diária da personalidade, um opressivo guarda-chuva de aço e tijolo, que transforma segundos em horas e horas em dias. Quando uma pessoa é trancada nesse submundo, parece que o tempo pára. Mas é claro que não é assim. As crianças que deixamos do lado de fora crescem, transformam-se em adultos, muitas vezes têm seus próprios filhos. Antigas relações amorosas murcham até serem não mais que poeira do passado. Parentes morrem, sua perda é lamentada em silenciosa solidão. Tempos, temperamentos, costumes sociais mudam, mas os enjaulados se movem num outro ritmo, ultrapassado.

Fechado dentro de um casulo mental de negatividade, o ruim fica ainda pior e se realimenta de dejetos de maldade. Os que estão feridos ficam mais profundamente feridos e aqueles que estão apenas um pouco "tortos" acabam degringolando de vez. O vazio de horas improdutivas se transmuta em anos de nada. Essa é a face crua do "sistema correcional" de nossa época, em que ninguém é corrigido, de onde ninguém sai melhor do que entrou. Essa é a face da "correção", que proíbe o ensino para aqueles entre os quais o índice estimado de analfabetismo é de 60%.

A selvagem monotonia que mata a alma, entorpece a mente, que torna cada dia um eco do dia anterior, sem chance nem esperança de evolução, faz da prisão a morada da morte espiritual para mais de um milhão de homens e mulheres que permanecem nesses buracos nos Estados Unidos. Qual interesse social é atendido mantendo-se esses prisioneiros analfabetos? Que benefício social advém dessa ignorância? Como se pode pretender corrigir pessoas aprisionadas se a eles é proibido o acesso ao ensino? Quem (além do próprio sistema penitenciário) lucra e se beneficia com a existência de prisioneiros ignorantes?

Mumia Abu-Jamal, novembro de 1994.


CAMPOS DE DEJETOS HUMANOS

Uma moda sinistra toma o campo dos "negócios" conhecido por "sistema correcional" nos Estados Unidos e cheira muito mal tanto para os presos quanto para as comunidades de onde eles são provenientes.
A América está revelando uma face dura e cruel. E não há lugar em que tal face seja mais diabólica do que no tenebroso submundo do cárcere, onde seres humanos são transformados em não-pessoas, são trancados em cubículos de não-vida, onde até mesmo a alma está submetida à liquidação.
Estamos em meio a um processo de "marionização" (1) das prisões americanas, onde qualquer esperança de reabilitação humana tem de ser descartada, entrando no lugar uma desumanização intencional. Como a superlotação das prisões aumenta, ameaçando explodir, os estados da federação se esforçam para angariar fundos para construir novas unidades de controle disciplinar, conhecidas por uma grande variedade de nomes: RHU, SMU, SHU, Supermax. Os porta-vozes dos governos defendem essas instituições argumentado que se trata de unidades rurais, localizadas em áreas isoladas para confinar "o pior do pior".
Esta justificativa serviu de pretexto para a infame transformação da Penitenciária Federal de Marion em unidade de controle, onde o governo empilhou prontamente um bom número de presos políticos, estando entre eles, por pelo menos um período, o ex-membro dos Panteras Negras Sundiata Acoli, o antigo ativista do Movimento Índio Americano Leonard Peltier (2), o doutor Alan Berkman (3) e o militanteantiimperialista norte-americano Tim Blunk (4), entre outros. Em 1987, a Anistia Internacional informou que em Marion se violavam quase todos os princípios estabelecidos pela ONU (Organização das Nações Unidas) para o tratamento de prisioneiros. Diversas redes de TV informaram recentemente que na Prisão de Segurança Máxima de Pelican Bay, na Califórnia, existe uma câmara de tortura denominada Skeleton Bay (6) pelos prisioneiros. Na Pensilvânia, numa região isolada e economicamente estrangulada, foi construída uma unidade especial de gerenciamento (SMU, da sigla em inglês), um dos lugares onde o Estado se especializou em torturar almas. Parece que essa unidade também se especializou em castigar os advogados de prisão e serve como punição para aqueles que se atrevam a ganhar causas civis.
Vamos considerar apenas um caso: Dennis "Solo" McKeithan conta sua história antes de ser mandado à SMU. "De junho de 1985 até 1o. de novembro de 1989 nunca fui lavado à solitária e nunca tive incidente disciplinar mais sério, a não ser ter fumado dois cigarros de maconha. Passei três anos sem nenhum tipo de conduta imprópria estudando e [sendo] instrutor de alfabetização e tudo." Em março de 1992 tudo mudou, quando "Solo" foi acusado de agredir um enfermeiro na prisão de Huntingdon. Pouco tempo depois, o autor pode vê-lo trancado numa cela do bloco B com o olho esquerdo inchado como uma bola de golfe.
Em 13 de novembro de 1992, aconteceu um fato espantoso e sem precedentes. "Solo" foi julgado e absolvido (sim!) por um júri de brancos do Condado Rural de Huntingdon, que não acreditou na história do enfermeiro, que também era branco.
Em 17 de novembro e 1992, apesar de absolvido, "Solo" foi transferido para o SMU e posto em isolamento.
Agora, tendo perdido nove quilos desde que chegou, ele continua lutando por sua liberdade e dignidade contra um sistema concebido para negar as duas.

Mumia Abu-Jamal, setembro de 1993.


NOTAS:

1 - "Marionização" é um termo cunhado no relatório de 1991 da Human Rights Watch sobre as prisões dos EUA. Em 1983, a Penitenciária Federal de Marion se converteu em uma unidade de confinamento disciplinar permanente. Constituiu o modelo de prisão de segurança máxima que depois se aplicaria em 38 outros estados. As prisões "marionizadas" mais recentes são a de Pelican Bay, na Califórnia, de Florence, no Colorado, e do Condado de Greene, na Pensilvânia. [Nota minha: em posts futuros serão esmiuçados outros aspectos do confinamento em segurança máxima segundo diferentes modelos que foram criados e aprimorados pelo sistema prisional, abordando o tema sob a perspectiva de outr@s pres@s políticos da atualidade].

2 - Leonard Peltier e Mumia Abu-Jamal são os dois mais conhecidos prisioneiros políticos dos Estados Unidos. Peltier é acusado de ter assassinado dois agentes do FBI em 1975. (N.E.)

3 - O doutor Alan Berkman foi acusado de dar assistência médica a um suposto "terrorista" da Revolutionary Army Task Force (RATF). Foi o primeiro acusado de tal crime desde o doutor Mudd, que tratou de John Wilkes Booth, o assassino de Lincoln. Berkman pegou doze anos por "envolvimento com terrorismo". (N.E.)

4 - Junto com Susan Rosemberg, Tim Blunk foi detido por posse ilegal de dinamite. Detalhe: a dinamite não estava preparada para ser uma bomba. Os dois acabaram condenados, em 1984, a cinquenta anos de prisão. No mesmo período, um militante de extrema-direita foi condenado por explodir clínicas de aborto e foi condenado a sete anos de prisão, sendo solto depois de quatro anos. (N.E.)

5 - Skeleton Bay (Baía dos Esqueletos): o nome vem de uma faixa ao norte da Namíbia, onde vão parar restos de naufrágios. (N.T.)


Ambos os trechos foram retirados do livro de Mumia Abu-Jamal "Ao vivo do corredor da morte", da Editora Conrad (2001), sendo o trecho "A Morte do Espírito" das páginas 74 e 75 e o "Campos de Dejetos Humanos" das páginas 91 à 93.

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